VI Seminário Educação dos Corpos, Culturas, História



VI Seminário Educação dos Corpos, Culturas, História - 04 a 06 de novembro de 2015
Financiamento: Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina
Realização: Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea


Trata-se de evento científico e formativo, que na forma de mesas, conferências e reuniões de trabalho pretende discutir a relação entre educação dos corpos, história e culturas, em vinculação com os temas do Esporte e Sociedade, Culturas Corporais, da História do Esporte, Estética e Esporte, bem como da Escolarização de jovens atletas. O foco central do evento deste ano é o Esporte e Sociedade, com a presença de pesquisadores de renome nas mesas, coordenação e organização: Jaison José Bassani (UFSC), Alexandre Fernandez Vaz (UFSC/Pesquisador CNPq), Michael Staack (Instituto de Ciências Desportivas/Institut für Sportwissenschaften - Goethe Universität/Frankfurt am Mai/Alemanha), Eduardo Galak (Universidad Nacional de La Plata/Conicet/Argentina), Wagner Xavier de Camargo (UFSCar/ Pesquisador Júnior de pós-doutorado da FAPESP); Michelle Carreirão Gonçalves (UFRJ), Ivan Marcelo Gomes (UFES), Drando. Carlus Augustus Jourand Correia (PPGE/UFRJ), Ana Cristina Richter (UFSC/Bolsista posdoc CNPq), Danielle Torri (Doutoranda PPGE/ UFSC), Drando. Thiago Perez Jorge (PPGH/UFSC), Patrícia Luiza Bremer Boaventura (Doutoranda PPGICH/UFSC), Daniel Machado da Conceição (Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea/UFSC.

Objetivo geral

Apresentar e discutir aspectos da relação entre educação dos corpos, culturas e história, com ênfase nas temáticas do Esporte e Sociedade, Culturas Corporais, História do Esporte, Estética e Esporte, bem como da Escolarização de jovens atletas, pensados a partir da Sociologia do Esporte e Teoria Crítica da Sociedade.

04.11.2015 -  Período Noturno 
Abertura do evento: Jaison José Basssani (UFSC) 
Na abertura do evento, o então coordenador desta edição,  Prof. Jaison José Bassani, deu as boas vindas a todos/as, participantes e palestrantes, falando do desafio que é a realização de um evento como este e agradecendo o apoio da FAPESC. Também comentou sobre o simbolismo do Seminário para os integrantes do Núcleo, momento do ano para que haja integração daqueles que, não estando mais em Florianópolis, possam vir, independente da temática, pela relação próxima com o Grupo de Pesquisas. Jaison também lembrou do esforço de alguns integrantes, especialmente de Lisandra Invernizzi e Danielle Torri, que não mediram esforços para a realização desta edição, e em seguida, constituiu a primeira mesa do evento, desejando momentos de reflexão e discussão aos presentes e palestrantes. 

04.11.2015 -  Período Noturno 
Mesa 1: Culturas corporais, abjeção e dissonâncias no sistema esportivo: Jogos Indígenas, Gay Games 
Prof. Dr. phil. Michael Staack (Instituto de Ciências Desportivas/Institut für Sportwissenschaften - Goethe Universität/Frankfurt am Mai/Alemanha) 
Prof. Dr. Wagner Xavier de Camargo (UFSCar/ Pesquisador Júnior de pós-doutorado da FAPESP) 
Coordenação e debate: Danielle Torri (Doutoranda PPGE/UFSC)


A Mesa 01, constituída pelos Profs. Michael Staack e Wagner Camargo tratou basicamente do olhar antropológico a duas formas “dissonantes” de manifestações corporais esportivas em relação ao sistema esportivo (olímpico). Em relação ao professor alemão, o tema foi os “Jogos Indígenas” realizados na cidade de Palmas no Tocantins, no mês de outubro/novembro. Foi oportunizado por meio de um relato etnográfico, que totalizou 10 dias de observação, e estava constituído com muitas imagens, dos “Jogos Internacionais dos Povos Indígenas”. Um dos pontos destacados por ele se refere à inflexão do sistema esportivo, ou seja, no sistema esportivo (formal) homens competem contra homens, mulheres competem contra mulheres, não se joga junto – o que também foi visualizado entre os indígenas. Outro ponto tratado, segundo sua observação, refere-se à indumentária esportiva, pois enquanto representantes indígenas brasileiros competiam com trajes mais típicos, os representantes indígenas dos EUA e Canadá fardavam-se com uniformes do esporte dito convencional. 
O Prof. Wagner Camargo trouxe suas contribuições com o olhar aos “Jogos Mundiais LGBT”, ou simplesmente “Gay Games”, uma competição similar aos Jogos Olímpicos, mas com todas suas particularidades, abjeções e dissociações, mostrando expressões variadas dentro do sistema esportivo. Conforme análise do referido professor, os Gay Games (GG) só não são mercadorizados e midiatizados porque eles tocam na questão da sexualidade, o que reafirma o fato deste tema  ainda ser um tabu. Outra questão apontada pelo Prof. Wagner é o fato de no próprio universo gay haver “hierarquizações”, em que gays e lésbicas têm sua visibilidade, enquanto para os“trans” haver ocultamento. Nesse sentido, Wagner questiona se é possível descobrir outros corpos que não são normatizados, aqueles que estão à margem do sistema, utilizando, por exemplo, modalidades como o nado sincronizado para homens e também a patinação artística masculina, modalidades que no sistema esportivo formal só existem para as mulheres. 
Por fim, público presente questionou se o sistema esportivo impõe suas normas a todas as manifestações ou se são estes movimentos que querem fazer parte do sistema esportivo.

05.11.2015 -  Período Vespertino
Mesa 2: História do Esporte: fontes, métodos, abordagens
Prof. Dr. Ivan Marcelo Gomes (UFES)
Drando. Thiago Perez Jorge (PPGH/UFSC)
Coordenação e debate: Cláudia Emilia Aguiar Moraes (Doutoranda PPGE/UFSC)


A mesa 2 iniciou com a fala do Doutorando em História no PPGH/UFSC, Thiago Perez Jorge, inicialmente, de maneira breve, explicando seu percurso formativo partindo da  Nutrição com passagens na pós graduação em Ciências Humanas e sua aproximação com a temática da educação do corpo, com o campo da Educação Física em especial, do esporte e com a História. Através do trabalho da sua dissertação “Em busca do corpo civilizado: o futebol como arte de governar do Colégio Catarinense em Florianópolis (1906-1918)”, explica a experiência de trabalho no campo da História possibilitou manejar, fontes, método e teorização na narrativa historiográfica. Em sua fala, frisou a importância da academia, pautada sempre pela racionalidade, não deixar de considerar em seus conhecimentos a “intuição”, como parte de um saber importante, ou seja, o que interessa ao trabalho historiográfico é o problema surgido em um dado momento. Daí novas regras surgem: escolha do material em função do problema; estabelecimento de relações que permitem a solução do problema; entre outros. A centralidade de sua fala girou em torno do início e desenvolvimento do jogo de foot-ball, como esporte e dispositivo de poder, do Ginásio Santa Catarina, hoje Colégio Catarinense, na cidade de Florianópolis, no período de 1906 a 1918, período compreendido pela disposição das fontes historiográficas utilizadas em sua pesquisa de mestrado. Além disso, mostrou a formação de público espectador, seja presencialmente, seja pelas matérias dos jornais impressos locais e pelos relatórios escolares.
Já o Prof. Ivan Marcelo Gomes discutiu os resultados da pesquisa já concluída intitulada “Memórias litorâneas, ilhas capitais”, mais especificamente em relação à cidade de Vitória, capital capixaba. Esboçou sobre história do esporte na cidade de Vitória, das décadas de 1920 e 1940, tecendo dimensões de uma história possível e tecendo autocríticas à pesquisa realizada. Trouxe interessantes imagens do início da constituição clubística e espacial desta cidade, com foco nos discursos sobre o corpo e a saúde. Seus achados, circulados na sua fala, focalizaram: (a) surgimento de clubes esportivos em Vitória; (b) o esporte na imprensa; (c) a vida social nos clubes esportivos; (d) o esporte e a reestruturação urbana da cidade; (e) o esporte e a relação com o Estado; (f) imagens do corpo esportivo feminino. E como síntese disso tudo, neste momento da interpretação dos dados que ainda estão sendo analisados e discutidos, o surgimento de dois principais eixos interpretativos: (1) as estratégias educativas e o esporte – com as prescrições para o corpo feminino, as propagandas nos textos dos jornais, os discursos de autoridade e a questão da saúde, bem como ambiguidades do discurso sobre o corpo feminino; (2) esporte e política – sobre os auxílios financeiros e a participação de políticos na vida social dos clubes, bem como o discurso nacionalista e o esporte.

05.11.2015 -  Período Noturno 
Mesa 3: Estética e Esporte
Prof. Dra. Michelle Carreirão Gonçalves (UFRJ)
Prof. Dr. Eduardo Galak (Universidad Nacional de La Plata/Conicet/Argentina)
Coordenação e debate: Dranda. Patrícia Luiza Bremer Boaventura (Doutoranda PPGICH/UFSC)


Na mesa 3 tivemos uma interessante discussão sobre estética e esporte, realizada pela Prof. Michelle Carreirão Gonçalves/UFRJ, que trouxe sínteses possíveis das questões empíricas de sua tese de doutorado, uma pesquisa realizada com jogadoras de rúgby, esporte pouco conhecido no Brasil, embora em ascensão, e em alguns outros países bastante destacado. Na tentativa de entender a questão por um ângulo distinto dos espectadores, comumente encontrado na literatura, utilizou para tal análise as jogadoras de rugby para entender as representações estéticas desse esporte, ou seja, procurou entender como as atletas percebem o componente estético de seu esporte. E também a presença do Prof. Eduardo Galak, representante argentino, que apresentou sua pesquisa que faz parte do projeto que está desenvolvendo sobre educação do corpo e imagens em movimento: cinema documental. Neste caso, apresentou questões sobre estética e esportes no arquivo do comitê olímpico internacional, sobre as primeiras imagens de Jogos Olímpicos até os jogos de 1936, incluindo o clássico “Olympia”, para discutir e fazer os presentes refletirem a respeito da questão central da mesa: estética e esporte. 
A Prof. Michelle estabeleceu paralelos possíveis entre arte e esporte, a partir da teoria estética adorniana, entendendo o corpo, no esporte, como matéria, em analogia à matéria na arte; e o material, no esporte, como gestos técnicos de cada modalidade. Em seu argumento, a técnica permite um trabalho de instrumentalização do corpo [matéria], transformando-o em objeto de cuidado e violência. Para tanto, se utiliza da repetição de gestos e de sua automatização para alcançar a performance esportiva. Nesse sentido, se para a arte a repetição deve existir para que seja executada como repetição automatizada, no esporte ocorre o mesmo, pois, depois dessa automatização, abre-se a possibilidade para a “criação”, a abertura, em suas palavras. Para ela, o belo, o fascinante e o cativante são as características estéticas do jogo/esporte. A criação da obra esportiva parece aproximar-se com a da obra de arte, na medida em que ambas conjugam técnica e mimeses. Finalizou considerando que o esporte não é o mesmo que a arte, mas há algo nele que permite a fruição estética.
Já Eduardo Galak sistematizou, em sua fala, o duplo sentido na relação entre esporte e estética, ou seja, o esporte no processo de estetização e a estética no processo de esportivização, trazendo para o debate autores como Jacques Rancière e Walter Benjamin. Ao utilizar imagens do Comitê Olímpico Internacional para demonstrar algumas performances esportivas, em alguns momentos, pelos primórdios dessa construção imagética e pela maneira como se competia, gerou certos risos na platéia – certamente fez cada um pensar na diferença estética de outrora com o que vimos esportivamente na contemporaneidade. Foi possível perceber que a técnica de percepção, o treinamento do olho, os modos de fazer e de ser, são próprios do cinema, conformando uma estética sensível, universalizada e em constante transformação. Finalizou sua argumentação relembrando a importância do educar (com) o olhar e da relação apontada por Walter Benjamin entre estética da política e uma política da estética. Para ele, entre Benjamin e Ranciêre há diferenças: para o primeiro, a potencialidade das tecnologias para o uso político gera uma massificação da montagem para além da autenticidade; para o segundo, a introdução da tecnologia, como a câmera, é um resultado estético, porque há uma imprevisibilidade, e ao mesmo tempo, há uma contemplação dessas imagens produzidas/captadas/interpretadas. Por fim, salientou que é preciso pensar as possíveis estéticas para além das dimensões técnicas no trato com o esporte e a arte.

06.11.2015 -  Período Matutino
Mesa 4: Escolarização de atletas
Drando. Carlus Augustus Jourand Correia (PPGE/UFRJ)
Prof. Dr. Jaison José Bassani (UFSC)
Coordenação e debate: Ms. Daniel Machado da Conceição (Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea/UFSC)


A última mesa do Seminário, Mesa 4, tratou da escolarização de atletas. Para tal, teve a presença do Doutorando do PPGE/UFRJ, Carlus Augustus Jourand Correia, que em sua explanação, trouxe um panorama da constituição de um campo de estudos ainda em formação no Brasil, em especial, as pesquisas realizadas pelo seu grupo, as justificativas para tal empreitada, as bibliografias utilizadas, a trajetória dos primeiros estudos até as pesquisas realizadas atualmente e as perspectivas teóricas. Para completar as apresentações, o Prof. Jaison Bassani também foi chamado ao debate, trazendo dados de duas pesquisas de mestrado sob sua orientação, realizadas recentemente, na Universidade Federal de Santa Catarina. A dissertação dos agora mestres Lucas Klein e Daniel Machado da Conceição, este último na coordenação e debate da mesa.
Na primeira fala, do pesquisador fluminense, tivemos um interessante panorama sobre esse campo em construção, ou seja, da escolarização de atletas. Isso porque, conforme as justificativas apontadas para tais investigações, há um “senso comum” de que o atleta, no Brasil, é “ignorante”. Além disso, segundo ele, há lacunas no campo da formação de atletas na academia, ou seja, a relação aluno-atleta. Também apontou que nacionalmente, os estudos só iniciaram na década de 90, e que hoje, vê-se um trabalho sobre a temática em três instituições (UFRJ, UFSC, UFES), com produções de dissertações e teses. Já no âmbito internacional, esse movimento iniciou ainda na década de 80, em países da Europa e também nos EUA, com produção verificada em anais de eventos e artigos em periódicos. Abordou a relação do esporte com a sociedade brasileiro e questões como a ideia salvacionista que temos do esporte no Brasil; o futebol como mercado profissional e promessa de ascensão; a existência autônoma da formação esportiva e escolar e a escassez de políticas públicas para conciliação dos jogos. Comentou sobre ao longo dos estudos vão aparecendo novas perguntas que vão gerando novas possibilidades de pesquisa e novas dinâmicas metodológicas, inclusive com a inclusão de novas abordagens teóricas no diálogo com o empírico.
Já Jaison Bassani, professor da UFSC, complementou sobre a parceria existente entre LABEC/UFRJ e NEPESC/UFSC que culminou com aas duas dissertações de mestrado sobre o tema da escolarização de atletas. Sob sua orientação Lucas Klein investigou os clubes de futsal do estado de Santa Catarina que disputavam o campeonato da divisão especial no ano de 2013. Os clubes são reconhecidos como locais possíveis para profissionalização o que atrai grande contingente de jovens com interesse em sua formação. A pesquisa permitiu perceber como é dada a formação no futsal e também a relação que os jovens atletas desenvolvem com a escola. Uma metodologia empregada foi o trabalho etnográfico acompanhando quatro promissores atletas de um dos clubes situado no norte do estado catarinense. A segunda orientação, foi desenvolvida por Daniel da Conceição nos dois principais clubes profissionais da cidade de Florianópolis, o Avaí FC e o Figueirense FC. A pesquisa também envolveu jovens atletas das categorias de base dos dois clubes, em especial os atletas que são alojados no clube e estão matriculados em duas escolas da rede estadual de educação do estado. Estes atletas cursam o Ensino Médio com idades entre 14 e 17 anos. A pesquisa teve alguns de seus resultados apresentados os quais envolveram as parcerias realizada entre os clubes e as escolas, além de apresentar a mediação feita junto aos jovens na condição de estudantes-atletas. O debate após as apresentações mostrou o quanto o tema foi instigante e suscitou questionamentos, dúvidas ou mais informações sobre o desenvolvimento das pesquisas.


Texto de Cristiano Mezzaroba e revisado por Danielle Torri, Patrícia Bremer Boaventura, Cláudia Emilia Aguiar Moraes e Daniel Machado da Conceição.


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